Direcção-Geral da Saúde passa a pagar a clínicas privadas uma quantia fixa por doente e por semana que ronda os 550 euros
In Público, 27 de Fevereiro de 2008
O novo modelo de funcionamento dos centros de diálise está a causar apreensão às duas associações de doentes renais do país, que temem perder qualidade de vida devido ao "cariz economicista" do acordo assinado com a Direcção-Geral da Saúde (DGS).
Em vigor desde o final da semana passada, o protocolo entre a Associação Nacional dos Centros de Diálise (Anadial) e a DGS pode implicar condicionamentos na prescrição de determinados medicamentos e uma eventual redução nas análises e exames complementares, acreditam a Associação Portuguesa de Insuficientes Renais e a Associação dos Doentes Renais do Norte de Portugal (ADRNP).
Com este acordo, passam a ser os centros de diálise, que até agora eram responsáveis apenas pela hemodiálise, a garantir todos os outros cuidados aos insuficientes renais, nomeadamente a medicação, as análises e os exames complementares. E, por estes serviços, passam a receber uma quantia fixa por doente - 547,94 euros por semana -, um valor com o qual deverão suportar todas as despesas relacionadas com o seu tratamento.
O problema é que até agora os doentes recebiam os fármacos nos hospitais e realizavam as análises e os exames relativos a outras patologias (que muitas vezes desenvolvem) onde entendiam, depois de os centros de diálise passarem requisições para o efeito. E a maior parte dos doentes renais, que praticamente não tinha contacto com os centros de saúde, nem dispõe de médico de família, agora passa a ter que conseguir consultas nos cuidados de saúde primários para ter acesso às necessárias requisições. "Seremos vistos por médicos que nem sequer o nosso historial clínico conhecem", lamenta José Gouveia, presidente da ADRNP."Como 90 por cento dos centros que fazem diálise dependem de multinacionais que visam o lucro, tememos que comecem, por exemplo, a pedir menos exames", explicita.
"Há aqui uma grande confusão", desdramatiza o responsável por esta área na DGS, Alexandre Dinis, garantindo que este novo modelo de gestão integrada da doença tem, ao invés, vantagens relativamente ao anterior e que ainda está a ser testado.
"Há um sistema de informação e monitorização e indicadores de acompanhamento de todo o processo dos doentes que antes não existiam", frisa. "E se os doentes tiverem intercorrências fruto da sua patologia, continuam a ser seguidos nas clínicas", assevera, notando que o preço pago às clínicas já foi calculado a pensar nesta possibilidade.
Fica ainda aberta a possibilidade de os centros de saúde fazerem medicina preventiva, por exemplo, rastreios a vários tipos de cancro. E Alexandre Dinis garante que os doentes renais terão aqui prioridade no atendimento, uma via mais rápida de acesso.
14.000
Em Portugal há cerca de 14 mil pessoas que sofrem de doenças renais e que temem ser afectadas pelo novo modelo de gestão. Destas, nove mil fazem diálise e cinco mil receberam um transplante